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UMBIGOCENTRISMO

 

Crônica escrita por André Daniel Reinke

Conheci o humanismo na escola. O contraste com tudo o que eu via na igreja era gigantesco: se nas classes da escola bíblica eu recebia a instrução de que Deus era o centro da história e de tudo o que existe, na escola secular encontrei o homem como o centro. Não poderia haver maior oposição de princípios. Hoje passaram-se mais de vinte anos desde que percebi o choque ideológico, mas creio que a diferença de opinião entre as duas instituições diminuiu sensivelmente. Não que a escola tenha se aproximado de Deus – muito pelo contrário. Foi a igreja que se tornou bem mais humanista, que deslocou o centro de suas aspirações de Deus para o homem. Neste “novo” comportamento, o universo e até mesmo Deus estão girando em torno do nosso umbigo. É isso que chamo de Umbigocentrismo.

Nessa ideia estapafúrdia, alguém decidiu que a vontade de Deus passa pelo nosso sucesso. A “prosperidade do povo de Deus” tornou-se o veículo da pregação do evangelho e a abundância material o sinônimo da bênção divina – ideia bem adequada à competitividade capitalista em que vivemos. Onde isso aparece? Na pregação (talvez camuflada) de que Deus está preocupado em fazer com que nós sejamos ricos, bem-sucedidos e poderosos. Quantas vezes você já ouviu a frase “EU determino”? Ou então “EU quero enriquecer para contribuir mais”, ou “EU vou ser famoso para a glória de Deus”?

Para a glória de Deus? É brincadeira…

É difícil para nós compreendermos corretamente a essência do evangelho. Somos tão bombardeados pela mídia na busca pelo sucesso que perdemos a referência de quem somos de fato: homens. Tomamos o lugar de Deus. Nós simplesmente determinamos e Ele passa a trabalhar para o nosso lucro e conforto.

Mas contra essa atitude temos alguns exemplos veterotestamentários (já que dali saem todos os referenciais de riqueza dos defensores da tal da prosperidade): Jó e os amigos de Daniel.

Jó é um livro que não gostamos muito de ler. Aquela desgraça que se abate sobre o coitado chega a nos constranger. Mas já no início do livro, Jó nos revela o entendimento essencial a respeito de quem ele era e quem Deus é. Após perder tudo, inclusive a saúde, ele disse: “Nu saí do ventre da minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor” (Jó 1.21). Ele podia não compreender as razões de Deus e até gemer contra elas, mas jamais se apartava do princípio básico: Deus é Deus, o homem é homem. Sabia quem era o soberano nessa relação. Se tudo lhe foi restituído depois é apenas porque Deus assim o quis.

Outros que surpreendem são os três amigos de Daniel no episódio da fornalha de Nabucodonosor (Dn 3). Quando rejeitaram a ordem de se curvarem perante a imagem, eles deram uma resposta memorável: “Responderam Sadraque, Mesaque e Abednego, e disseram ao rei Nabucodonosor: Não necessitamos de te responder sobre esse negócio. Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que pode nos livrar; ele nos livrará da fornalha de fogo ardente e da tua mão, ó rei. Mas, SE NÃO, fica sabendo ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste” (Dn 3.16-18). Não eram eles que determinariam nada; estavam nas mãos de Deus e isso lhes bastava. Mesmo que para um final trágico. E se Deus os salvou, também foi somente porque quis.

Tanto Jó quanto os amigos de Daniel compreendiam o conceito da soberania de Deus. Nem mais, nem menos. Deus não trabalhava para eles, não girava ao redor dos seus umbigos.

E eles nunca se esqueceram disso.

"... Isto é, a justiça de Deus pela fé em Jesus Cristo para todos os que crêem; pois não há distinção" Romanos 3.22

Extraído do site http://curiosidadesbiblicas.com.br/curiosidades/categoria/cronicas/